segunda-feira, 18 de abril de 2011

Nas forças da n’goma

Durante uma limpeza em papéis, escritos do mestrado e tantos rascunhos de matérias publicadas e de palestras assistidas, enfim, algo que parecia não representar importância, deparei-me com interessantes anotações do evento “A cultura religiosa de matrizes africanas”, ocorrido em 2008, na PUC-SP.

Na ocasião, a cientista social e professora da Universidade de São Paulo (USP), Maria Lúcia Pontes, falou do quanto é importante valorizar a cultura afro-brasileira através das religiões de matriz afro. “É legítimo reivindicar como patrimônio da cultura brasileira o legado de 400 anos da escravidão brasileira”, disse.

A professora expôs que africanos de diferentes etnias e regiões foram trazidos juntos pelos senhores, com intuito de quebra de vínculos. Ser “malungo” - que significa parentesco, aquele que é irmão, que veio junto na travessia do Rio Kalunga (que liga a vida e a morte) – prevaleceu.


Foto de Carlos Roberto Chaves Faria, Salvador, BA, publicada na National Geographic

Ao longo dos séculos, foram criados pela população escravizada meios de pensar num universo comum. Surge, então, a religião, que pensa a relação com a natureza, ancestrais, sobrenatural, uma relação orgânica. “O candomblé é este universo comum, surgido da mistura das nações, legitimado diante da cultura nacional através de Jorge Amado”, disse a professora.

Outro aspecto importante, segundo ela, foi a presença da n’goma - tambor sagrado que chama a força dos ancestrais – como instrumento de resistência para os negros durante a escravidão.

Uma crítica do baiano Pai Francisco de Oxum, também palestrante do evento, foi que o movimento negro contemporâneo esquece os ancestrais, os orixás. “Precisamos de espaços como estes [o evento] para mostrar que, nos nossos cultos, não temos do que nos envergonhar e que sem a religiosidade nenhuma cultura e nenhum povo permanece vivo.”

Obstáculo comum encontrado nos freqüentadores de religiões de matriz africana, Pai Francisco de Oxum conta o que vivia em 2008: “Eu tenho um filho que não quer saber de escola, porque ouve que é filho daquele macumbeiro, adorador do diabo”. Acrescentou ainda que não aceita ser apedrejado pela vestimenta diferente daquelas comuns aos olhos da população.

De bem com a vida, o palestrante Pai Rodnei de Oxossi elucidou que o candomblé reafirma sua identidade negra.

E para mim não é diferente. Ontem vesti vermelho e branco e levei oferenda a Ogum, na Umbanda, religião brasileira, com raízes africanas. E, pra quem se opõe, o mínimo esperado é o respeito. Ponto final.

2 comentários:

Negritude disse...

É isso minha preta. Salve, salve!

Paula Leão disse...

Lindo Ana... importante fazer esta reflexão no universo perdido e alienado dos conceitos pré-estabelecidos! Beijos