sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Bahia que também é minha

Ouvir histórias, o sotaque, o cheiro, a cor de Salvador me envolve, me fascina a ponto de tirar-me a vontade de voltar a São Paulo. Pra ser sincera, confesso que todo o litoral me dá a sensação de que vivo em lugar errado. Mas aqui [Salvador]* é diferente, é como se eu pertencesse a essa terra, tão minha como de todo brasileiro.

Andar pelo Pelourinho, naquelas ladeiras de cansar as canelas, ver arte baiana espalhada pela rua, falar com o povo... Ah, que delícia!

A festa no terreiro do Gantois, no qual foi servida a comida de Oxum, foi uma das manifestações religiosas mais lindas que já vi. Gerações reunidas no candomblé a dançar para os antepassados.
Não posso deixar de citar a estadia no albergue Pedra da Sereia, entre o Rio Vermelho e Ondina. Foi lá que nós, pesquisadoras da PUC/SP, ficamos tanto pelo preço acessível quanto pela proximidade da Universidade Católica de Salvador, onde ocorreu o III Seminário Internacional de Políticas Sociais, onde apresentamos trabalhos sobre o sistema prisional feminino.

Esse texto começou a ser escrito na sala de embarque do aeroporto Deputado Luís Eduardo Magalhães, mas foi logo interrompido por uma certa gritaria da qual eu desconhecia o motivo. Passavam pessoas com camisas de time de futebol de um lado para o outro e eu, nada conhecedora dessa habilidade brasileira, me perguntava o que aquele povo todo fazia por lá.

“Bahia, minha porra!!!”, exclamava um senhor sentado ao meu lado. Os meninos que o acompanhavam respondiam da mesma forma. Embarcariam no mesmo vôo que eu (para S. Paulo) para assistir ao jogo Bahia X Bragantino, no Morumbi.

“O Bahia não é um time, é uma religião. A torcida, em São Paulo, vai lotar o Morumbi”, disse a animada engenheira Soraya, com bandeira do time amarrada nas costas. E quem era eu para desacreditar nesse amor?

Foi assim que voltei, tristonha de certa forma, mas com a alegria dos torcedores tricolores, de um dos Estado com o qual tanto me identifico, que mal sabiam que o resultado seria 2x0 pro time paulista.

*Inicialmente escrito em Salvador, esse texto foi finalizado dias depois em São Paulo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quando o instinto reaparece



A evolução humana - que caminha a passos lentos - deixou em mim rastros primitivos, tais como a manifestação da raiva.

Como uma leoa que vê a cria ameaçada, rugi e avancei numa cidadã - se é que tal sujeita merece este adjetivo - que, enquanto dava ré em velocidade imprópria na contramão de um shopping, quase atropelou a mim e ao meu filho.

Não fosse a minha rápida corrida e um forte puxão na criança, talvez não estivesse aqui a contar a história.

Depois de me safar do carro, corri, enfurecida, para a janela do veículo, querendo ver a insana e dizer-lhes aqueles palavrões que enchem a boca e dão gosto de falar pra quem os merece. Isso, só os pobres mortais como eu conhecem. Desculpem-me os mais "evoluídos", contidos ou que costumam engolir populações de sapos, anos após anos, sem necessitar de manifestações como essa.

Falar??? Não, gritei mesmo. Berrei. Era o meu instinto mais animal que se manifestava, a aflição de ter a integridade física do meu filho violada e, mais, a possibilidade de não tê-lo mais comigo. Era uma animal com medo da morte da cria e, portanto, em defesa da sua vida - ao ataque.

Ataquei e me debati para alcançar o inimigo até a turma do "deixa disso" entrar em ação. A vontade era arrancar a mulher - que não se desculpou pelo incidente e ainda prosseguiu com provocações e xingamentos - de dentro do carro pela janela.

Um pedido de desculpas certamente me desarmaria, colocaria-me a exercitar o perdão e pronto, resolvido. Mas não. A dona continuou, ameaçou me atropelar. Indignei-me e extravasei na agressividade.

Num corpo dolorido - de estresse e de tanto ser segurada -, a certeza de que, ainda em evolução, sou uma fêmea arisca em defesa da vida e da preservação dos filhos.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pra sair dos estudos

Já que dei o título do texto antes mesmo de acabá-lo, vamos lá... Pra sair dos estudos, no qual há cinco minutos escrevia sobre o tráfico de drogas, resolvi escrever sobre educação. Claro, tem semelhança.

Num corriqueiro feriado - espero que seja o último - sozinha em casa, estudando, sem nada de saudável na geladeira e na fruteira, resolvi dar uma caminhada até o mercado mais próximo, 15 minutos na passada rápida.

Fiz o que precisava, escolhi frutas e verduras e fui pro caixa. Enquanto aguardava, dispersa, o senhor da minha frente passar as compras, fui surpreendida por ele mesmo, que disse para a operadora de caixa: "Opa, não empurra!".

A jovem trabalhadora, que devia estar mais de saco cheio do que eu, por ter de cumprir deveres em pleno feriado, disse: "Não empurra o quê?".

O homem bigodudo logo se manifestou: "Você está empurrando as compras. Pensa que não estou vendo? Vocês fazem isso mesmo, só que um dia a gente está de mau humor e dá nisso", resmungou.

Não sei do que ele falava. Apesar de estar dispersa no início do bafafá, não tinha nada de mais na forma com que a operadora registrava os alimentos, para serem guardados a seguir.



Acho que o bigodão dormiu com a bunda descoberta e descontou na pobre da menina. Eu não ia deixar barato com aquele senhor distinto.

Tomei as dores da menina quando vi que ele colocava a mercadoria lerdamente nas sacolinhas - odiadas pelos ambientalistas - e fazia a fila crescer.

Soltei: "É, se o senhor precisasse de empacotador, já deveria ter chamado".

Ele, sem graça, se redimindo pelo bafão: "Tem razão, tem dia que não estamos bem. Desculpa, viu", virou-se para a operadora e desculpou-se também e completou "não importa como, precisamos mesmo ter educação".

Concordo, no entanto, se não fosse meu remedinho de TPM, em pleno feriado de sol, trancada com computador e livros, minha educação poderia se esvair ali em qualquer momento de descuido.


domingo, 11 de abril de 2010

Evidência de um romance

Eu não imaginava a rapidez. Tão logo ele saiu e já me envolvi. Flertávamos há anos, porém uma relação daquelas ainda não havia experimentado.

Nas três noites que estive só, eram três a ocupar o espaço vazio da cama e a me envolver até que adormecesse.

O casamento não havia permitido uma vivência tão intensa, portanto reflito que se não tivesse oficializado meu sério relacionamento, teria uma vida promíscua, de trocas a todo o momento. Estariam espalhados pela casa, pelo quarto, sobre os lençóis.

Após os três dias de viagem, ele voltou e, no cenário ainda intacto, se quer reparou no seu espaço ocupado. De certa forma, ele entende o romance, sabe do inevitável, já não há desconfiança ou suspeita.

Direcionei-os para o local adequado, onde se dispõem ao meu ataque. Estão ali, para mim, e eu os desejo quase que em todos os momentos, deliciosos e sábios livros.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Relatos que perturbam

Passar a Páscoa sozinha e estudando me faz comer ainda mais chocolate. Ah! Quantas calorias... E como são indispensáveis.

Sobre a última publicação, afirmo que o ano começou faz tempo. Ainda mais com o prazo do mestrado apertadíssimo.

Dos meados da graduação aos dias atuais, questiono-me sobre minha primeira opção de curso, Jornalismo. Deveria ter sido Ciências Sociais? Serviço Social? A verdade é que não há resposta, pois são grandes paixões. A melhor opção é experimentá-las, algo que faço desde o meu ingresso na pós-graduação, há quase três anos.

A prática jornalística é uma eficiente ferramenta para a organização do singelo conhecimento que tenho adquirido nas facetas das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. A escrita e leitura são relevantes. Ouvi de amigos pesquisadores que ao me aproximar do objeto de estudo – um determinado ser humano, no meu caso – certamente teria insights inesperados e frequentes e que chegaria a perder algumas horas de sono, além de outros sintomas.

No meu caso ocorre tudo o que me foi indicado, afinal, como já publiquei em outras mídias sociais, “relatos de mulheres presas são instigantes, perturbadores e, por vezes, inacreditáveis”.

Não desgrudo do meu caderno de campo, ao qual recorro para registrar palavras ouvidas, imagens, instantes. É ele o meu único cúmplice de pensamentos ligeiros e inquietos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Minhas férias

Santa Maria! Faz muito tempo que não escrevo uma redação intitulada “Minhas férias”, aquela de praxe no ensino fundamental. Acredito que seja a hora, já que voltei há pouco de bons dias de descanso.

Outros ares fazem bem, servem pra mim, pra família toda, ainda melhor quando tem mar, areia limpa, sol, calorão, gente amiga.

Todo ano, entre dezembro e janeiro, espero os dias de ficar instantes sentada numa sombra – adoro sol, mas não rachando nos meus cachos – olhar o mar, andar pra lá e pra cá, sentir a ondinha na canela.

Ainda bem, consigo executar isso há anos, no entanto sempre com mudanças. Nestas férias, além de brincar com João Pedro, meu filho mais velho, tivemos, o maridão e eu, de dar conta do caçula de 10 meses. Trabalho dobrado... E apaixonante.

Muita água para os dois, muita fruta, saladas, brincadeiras, vale molhar a roupa, sujar também, pode cair, chorar, sorrir até cansar. Até salgadinho, bolacha, sorvete, bala – quem me conhece sabe a disciplina quanto a isso – ficaram um tanto “liberados” pro rapaz de cinco anos. Dançamos, corremos, mergulhamos, andamos ao pôr do sol, à luz da lua.

Às vezes rezávamos pro dia acabar, tamanho era o cansaço. Em poucas horas, a bateria era recarregada para o próximo dia.

Deliciosas, assim foram as férias. Fotos e vídeos vão contar a história.

Estou pronta pra 2010, que pasmem ou invejem, pra mim ainda não começou.