Há pouco mais de 24 horas conheci o sentido da morte. Ela nunca se apresentara antes para mim. Deu sinais, mostrou-se aos poucos, não teve pressa nem surpreendeu.
Pano preto na sacada, vestes da mesma cor, era o luto manifestado. Morreu a matriarca! O corpo da pianista foi velado em frente ao instrumento ao qual dedicou anos de estudo. Os pássaros começaram a cantar, curtas passadas pelo telhado.
O dia amanheceu e às seis da manhã não se ouvia o badalar de sinos, mas uma conhecida valsa na família, sempre tocada por vovó, com seus dedos delicados e mãos pequenas, nos encontros dela com o piano. A homenagem não poderia vir de outro senão do neto querido. Bravo! Era ela em nós.
O pranto, a dor. Agora entendi a morte. Morte é parte do ciclo de vida, aos 92 anos. Mas é principalmente saudade de vozinha ao me chamar de “meu tesouro”, acarinhar-me o rosto, sorrisos, amor... Sempre amor.
Cortejo e caminhar lentos, silêncio. O corpo se foi. Acorde, o corpo se foi!
Só ele se vai, relações não se vão, lembranças tampouco, carinhos, afagos, cheiros, tudo fica. A morte não existe.